The Secret of Monkey Island chega aos 30 anos

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The Secret of Monkey Island exibido na tela de um netbook Acer Apire One
Monkey Island ainda roda no velho Acer Aspire 1, de 2008 (foto: Marcelo Jabulas)

Marcelo Jabulas | @mjabulas – No final dos anos 1970, George Lucas criou uma divisão de computação na LucasFilm para aprimorar a qualidade de efeitos da franquia “Star Wars”. Esse departamento tinha duas vertentes: Uma para computação gráfica e outra para desenvolvimento de jogos. A primeira se desmembrou e se tornou a Pixar. E a segunda evoluiu para a LucasFilm Games, que mais tarde se chamaria LucasArts. E para desenvolver games, a equipe criou o motor gráfico Script Creation Utility para Maniac Mansion, o popular SCUMM. Esse motor deu origem a diversos games, entre eles The Secret of Monkey Island, que completa 30 anos no dia 15 de outubro.

Monkey Island, como ficou conhecido, é um Point-and-Click Graphic Adventure Game, ou apenas Adventure. Nele o jogador controla as ações usando o mouse para clicar nos elementos do cenário, assim como combinar elementos. Trata-se de um tipo de jogo que ganhou popularidade a partir da segunda metade dos anos 1980, com o surgimento do mouse.

Primeira vista

Lembro com muita clareza da primeira vez que vi, mas não joguei, Monkey Island. Foi na casa de um vizinho, em que o patriarca tinha comprado IBM PC AT, que rodava sistema operacional DOS. Foi entre 1991 e 1992. Na ocasião, quem jogava o game era filha mais velha e seu namorado. A gente pode assistir e dar uns pitacos, mas jamais tocar naquela coisa com uma bolota que direcionava a setinha. Era um jogo para gente grande. No dia seguinte, o computador tinha sido levado para a empresa e por lá ficou.

Depois daquele dia, Monkey Island se tornou uma obsessão, algo inatingível. Afinal, como teria acesso a um computador novamente? Era muito diferente de um videogame convencional, em que se comanda o bonequinho por uma tela que desliza lateralmente. Os cenários tinham profundidade e enquadramentos diferentes. Diálogos, itens coletáveis. Elementos triviais nos games de hoje, mas que eram revolucionários há 30 anos. Fato é que não demorou muito para jogar Monkey novamente. Mas isso é outra história.

O jogo

The Secret of Monkey Island conta a história de Guybrush Threepwood, um aspirante a pirata que aporta em Mêlée Island, num fictício arquipélago caribenho, onde perambulavam velhos marujos e toda sorte de bandidos. Numa taverna, ele é desafiado a cumprir três tarefas que o alçariam à condição de pirata.

Threepwood precisava vencer uma luta de espadas, desenterrar um tesouro e roubar artefato valioso na residência do mandatário local. No meio dessa história, o protagonista se apaixona pela governadora Elaine. Mas ela é capturada pirata fantasma LeChuck. E a mantém seu navio amaldiçoado ancorado na Ilha dos Macacos. O game foi inspirado na atração da Disney, “Piratas do Caribe”, muito antes de virar um sucesso nos cinemas.

Tudo isso com charadas e quebra-cabeças a cada cenário. Por exemplo, para poder duelar, o jogador precisa conseguir uma espada. Mas para obter a arma é preciso cumprir com outras tarefas. Atravessar uma ponte pode exigir pedágio. Ou seja, apesar de a história parecer simplista, o conjunto de elementos e tarefas fazem com que o game se expanda e que a campanha se arraste por dias.

Genialidade

The Secret of Monkey Island foi dirigido por Ron Gilbert, que se tornou um dos grandes designers de games nos anos 1980 e 90. Ele já tinha trabalhado em Maniac Mansion (1987), game que estreou o motor SCUMM, assim como em Zak McKracken and the Alien Mindbenders. Mais recentemente publicou The Cave e o excelente Thimbleweed Park

A lógica de Monkey era exatamente a mesma de Maniac e Zak. O jogo exige que se explore cada cenário, encontrar itens que interagem com outros nas demais telas. A diferença é que nos games de 1987 e 88 eram bem mais rudimentares no quesito gráfico. Mas nem por isso menos genial.

De certa forma, por terem cenários mais simples, é mais fácil visualizar os objetos escondidos no cenário. Em “Monkey” muitas vezes o detalhamento mais apurado tornava a busca mais difícil, fazendo com que o jogador varresse cada tela com o mouse em busca de elementos interativos.

Visual

Em relação aos games anteriores, Monkey se destacava pelo design. O game era muito bem desenhado, com cenários detalhados e uma grande variedade de elementos. Tudo em Pixel Art, o que indicava o tamanho da dedicação dos designers. Além disso, o game contava com trilha sonora (na versão em CD-ROM), que praticamente ocupava todo espaço do disco. Originalmente, na edição em disquete, o máximo que se tinham eram os beeps da placa mãe como recurso de áudio. Era romântico.

Diálogos

Todo Adventure era repleto de conversas. O jogador precisava ficar atento na condução das falas. Nas falas estão as instruções, mas são salpicadas em meio a diálogos ácidos, piadas, ofensas e agressões. São recursos adicionados para tornar o jogo mais difícil. Muitas vezes era preciso consultar diferentes personagens para ter uma informação exata.

No entanto, os produtores inseriram piadas sobre o motor gráfico SCUMM. Além disso, as prosas são repletas de menções a outros games do estúdio. Tudo isso pode fazer uma grande confusão na cabeça do jogador, principalmente quando não conhecer as produções da LucasArts.

De certo modo, Monkey Island, assim como Maniac Mansion e outros Adventures foram bons professores de inglês. Para conseguir jogar esses games eu precisava contar com a presença do bom e velho Amadeu Marques. Hoje ficou tudo mais fácil. O game é dublado e quando não é tem legenda em português. E ainda sim, se for em inglês, basta apontar o celular que o Google Tradutor tira sua dúvida.

Recepção

O game teve excelente aceitação do público, a ponto de receber um segundo episódio em 1990, Monkey Island 2: LeChuck’s Revenge, que utilizava o mesmo motor gráfico e estilo de jogabilidade. Em 1997 a LucasArts publicou The Curse of Monkey Island e em 2000 Escape from Monkey Island, já com gráficos mais sofisticados e evoluções em jogabilidade.

Quase 10 anos depois, em 2009, a Telltale, estúdio de The Walking Dead e Batman Telltale Series, publicou Tales From Monkey Island para PS3, Xbox 360, Mac, PC, Wii e iOS. O game trazia o estilo jogabilidade do estúdio em que cada cenário concluído levava a outro, de forma linear

Em seus 30 anos de mercado, Monkey Island teve edições para diferentes plataformas, como Amiga, Mac OS, DOS, Windows. Ele também teve reedições em alta definição para PS3, Xbox One e iOS (iPhone e iPad). Atualmente é possível encontrar a versão Special Edition, de 2009 (pegando carona no game da Telltale), para Windows, na Steam e GoG.com, com preços que giram em torno dos R$ 20. Uma ninharia.

Joga e depois me conta.


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