Review – Ghost of Tsushima explora mundo samurai sem ser caricato

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Ghost of Tsushima é exclusivo para PS4

Marcelo Jabulas | @mjabulas – Admito que não estava muito empolgado para jogar Ghost of Tsushima. Pessoalmente achei que havia um hype exacerbado sobre o game e que seria mais um jogo medieval japonês aos moldes de Sekiro e Nioh 2, que abusaria da mitologia para engrandecer seu gameplay, inimigos titânicos e um grau de dificuldade que beira o sadismo. Mas preciso dar o braço a torcer. O time da Sucker Punch se superou e provou que poderia ir além da franquia Infamous.

O game se revela de diferentes formas. No começo parece um Hack & Slash, no melhor estilo God of War, mas depois se morfa num Action RPG, que em uma analogia simplista, seria uma espécie de Days Gone samurai. Em meio ao caos, o jogador precisa desbravar um imenso mapa em busca de aperfeiçoamento, novas habilidades, aliados e armamentos. Ao invés de uma motocicleta, um cavalo. E no lugar de hordas de frenéticos, fanáticos e ladrões, guerreiros mongóis comandados por um impetuoso general que quer esmagar qualquer tipo de resistência.

História

Ghost of Tsushima é construído sobre fatos históricos, que remontam a expansão mongol no século 13. Tsushima é uma ilha japonesa, localizada no Estreito da Coreia. Nos planos dos mongois para ocupar o Japão, a ilha tinha função estratégica como ponto de apoio, pois ficava no meio do caminho.

De acordo com a história, o Império Mongol tentou por duas vezes dominar o arquipélago japonês, nos anos de 1274 e 1281. A resistência em Tsushima teria sido responsável pelo retrocesso da expansão mongol.

O enredo

No game, o jogador assume o papel de Jin Sakai, um samurai criado e treinado por seu tio, um general samurai, que foi um dos líderes da resistência contra os mongóis. No começo do game, os samurais são surpreendidos pela poderio bélico mongol. O tio de Jin é feito prisioneiro de guerra e cabe ao jovem guerreiro iniciar sua ofensiva.

Dado como morto, após uma luta com líder mongol, o samurai precisa liberar vilarejos, encontrar novos companheiros de batalha. Como samurai, o jogador é autoridade no jogo. Entre os aldeões, viajantes e monges, Jin sempre é recebido com deferência, devido ao seu posto de guerreiro imperial.

Kurosawa

Ghost of Tsushima é um game com visual primoroso, belos cenários, e uma qualidade de texturas que impressionam até mesmo quando se roda na versão padrão do PS4. Mas ele vai além e conta com elementos requintados que prometem ampliar a imersão do jogador. Além de oferecer idioma em japonês (que é recomendável para melhor ambientação do game), há também o Modo Kurosawa.

Akira Kurosawa foi um dos mais importantes cineastas japoneses, dono de uma filmografia irretocável, e que retratou a figura do samurai em diversos filmes, como Os Sete Samurais, A Fortaleza Perdida, assim como Sanjuro, em que a história é de um samurai precisa salvar o tio.

O Modo Kurosawa replica a estética monocromática que o cineasta utilizou no filme de 1962. Quando se ativa o filtro, a imagem além de se converter em preto e branco, também transparece as manchas e fragmentos de poeira das antigas películas. O áudio também passa por mudanças, mais abafado, como se fosse mono canal.

Gameplay

Ghost of Tsushima é um game desenhado diante do código de conduta do samurai, o Bushido. Jin se vê diante de grandes dilemas durante o jogo. Por exemplo, ele não chega na surdina e assassina seu oponente. Na cartilha do samurai, trata-se de uma covardia. É preciso se postar diante do seu rival e atacá-lo diante dos olhos, dando-lhe a oportunidade do confronto.

E isso pode ser um problema para o jogador, pois muitas vezes, o jovem guerreiro se vê em situações em que é impossível encarar um grupo armado de peito aberto. E nessa história de honra, é preciso desafiar o oponente para um duelo. Nesse momento há um comando que permite executar o oponente de uma só vez. Mas é preciso ter o tempo certo do ataque. O problema é enfrentar o restante da turma sozinho.

Mas com o passar do jogo e por influência de demais personagens Jin, descobre que em uma guerra desonrada, alguns dogmas devem ser negligenciados.

Tudo de si

O protagonista pode recuperar sua energia desde que acumule pontos de força de vontade. Ou seja, sempre que ele derrota um inimigo sua moral se eleva e ele pode recuperar o sangue perdido.

Com a evolução do personagem, os pontos de “confiança” aumentam, assim como a barra de energia. Como diria Milton Leite, é quando o sujeito enche o peito e pensa: “Agora eu ‘se’ consagro!”

Siga o vento

O game tem um menu de comandos simples: ataque, esquiva, salto, corrida, botão de cura, assobio para chamar o cavalo e por aí vai. Um recurso interessante está no track pad do Dualshock 4. Nele é possível ativar diferentes comandos, de acordo com a direção do movimento.

Como não existe mini mapa ou bússola. O samurai se orienta pelo vento. basta deslizar o dedo de baixo para cima que uma corrente de ar indica a direção.

Evoluções

Como todo Action RPG, uma das atribuições do jogador é vasculhar os cenários em busca de itens, como metais, madeira e demais insumos para adquirir melhorias para suas armas e armaduras, assim, como recursos para comprar novas peças de sua indumentária.

No entanto, pelo mapa há locais como as tocas de raposas e também as fontes termais. O pequeno lupino tem simbolismo na cultura. Seguir esses animais a partir de suas tocas rende melhorias para o jogador.

Já as fontes, são locais onde o samurai se banha e medita sobre diferente dilemas de sua vida. Além de revigorar, os banhos também garantem upgrades nas habilidades do protagonista.

Novos personagens também surgem durante a campanha e apresentam a Jin novos armamentos e técnicas. Ou seja, não se pode ter preguiça de varrer o mapa da Tsushima em buscas de melhorias.

Palavra final

Com a mão dada à palmatória, é preciso reconhecer que Ghost of Tsushima vai muito além das expectativas. Sem se fazer valer de magias e elementos da mitologia, trata-se de um game totalmente focado em contextos históricos. E a solução para recuperar energia, de acordo com a “força de vontade” do samurai foi uma sacada genial para não recorrer ao misticismo.

Os elementos com uso vento para se orientar permitiram um visual mais limpo. Assim como o Modo Kurosawa amplifica o romantismo da produção. Definitivamente um excelente game que se apresenta na reta final do PS4. Inclusive, se o amigo não conhece a filmografia do cineasta, vale a pena conferir.


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